quarta-feira, 28 de abril de 2021

Gostoso ao pé do ouvido

Fui te ver com aquele frio na barriga de quem não sabe o que esperar, não lembro agora a última pessoa que me causou isso antes de você, é o tipo de sensação que faz a gente ter certeza que tá vivo.

Te conhecer me fez descobrir que dá pra ter tesão só de ouvir a voz de alguém. Sua voz me causa sinestesia, entra pelos meus ouvidos e me esquenta toda por dentro, eu cruzo as pernas com força, fecho os olhos e suspiro fundo, meus sentidos imploram pra te ter dentro de novo, apreciar, de todas as formas.

Você é compositor, mas hoje quem declama sou eu, em forma de gemidos, perco minhas roupas e o fôlego. Então eu te olho, não sei se em silêncio ou se o mundo realmente para pra eu te admirar melhor, e penso que talvez você seja o homem mais bonito do mundo. 

Aí você mexe no cabelo bagunçado que caí no seu rosto e eu tenho certeza disso.

O sol da meia noite brilha só pra gente se ver por inteiro, o único som é o das nossas respirações sincronizadas, a gente se morde pra sentir melhor o sabor, você sussurra arrepios e tudo que eu desejo é que você beije minha boca até o amanhecer.

Dou play na sua música, você não sai da minha cabeça...

quarta-feira, 21 de abril de 2021

Perspectivas

Quase 4 da manhã de uma quarta qualquer, eu olho a rua da sacada fumando meu cigarro, uma paz estranha permeia o ar, da até pra esquecer que estamos vivendo uma pandemia por alguns segundos.

Tudo parece normal, alguns poucos apartamentos com a luz ligada, o mundo dorme, o mundo explode, o mundo gira, várias percepções que mudam de acordo com o lugar que se ocupa na vida. Me sinto observadora de tudo, meu mundo não é o melhor cenário que se tem pra viver atualmente, mas com certeza também não é o pior e sigo muito grata de viver dos males o menor. 

Meu vizinho de frente aparece na janela, fumando também, a insônia e a ansiedade têm sido nossas maiores companheiras quando paramos pra analisar o conjunto dos acontecimentos. Mais um dia, menos um dia, perspectivas.

 Fui pro outro lado da sacada, não quero atrapalhar o momento de reflexões, nem o meu, nem o dele, agora eu só quero observar a rua e pensar que nem parece que ter saúde é artigo de luxo atualmente, tá tudo tão silencioso que o mundo nem aparenta estar em uma das suas piores fases dos últimos anos, e essa frase se repete na minha cabeça incessantemente.

Começa a tocar nos meus fones Lulu Santos "eu vejo a vida melhor no futuro..." me lembrando que não há tempo que volte, que é pra gente viver tudo e se permitir, e isso faz uma fagulha de esperança acender no meu coração, porque eu sou uma dessas pessoas que vêem, sonham e acreditam numa vida melhor no futuro sim, a esperança é um combustível inabalável.

quinta-feira, 1 de abril de 2021

Eu não tô bem

Me sinto triste e ansiosa quase todo tempo e no tempo que sobra o sentimento é de revolta e raiva.

É difícil ter esperança quando não se vê luz no fim desse túnel sem fim de mortes, pânico e privações. 

Meu peito dói de tanta ansiedade diária, de não ter o menor controle de nada, de viver em estado de alerta, de pensar que qualquer passo em falso pode arruinar toda minha vida, minha família, meu futuro, minha sanidade, meus mil planos do que ainda quero e vou viver.

Eu choro muito, pelas notícias, pelas histórias, de cansaço, de desespero, de não aguentar mais, mas seguir aguentando. Eu estou chorando agora, inclusive. Esses dias chorei lendo um post com imagens da última mensagem que algumas pessoas que perderam familiares e amigos receberam delas, quando já estavam no hospital, e isso me destruiu, é muito difícil ser uma pessoa que se importa e que se coloca no lugar dos outros no atual momento.

Escrevo sobre como me sinto agora pensando que, daqui um tempo, vou reler e lembrar que esses meses, aparentemente, sem fim (que já completaram um ano) são apenas memórias ruins, que eu vou ir apagando aos poucos e voltar a fazer planos a longo prazo, sem o medo da possibilidade de perder um ente querido a espreita de qualquer movimento em falso.

Todo dia eu acordo, olho pro céu, agora azul e de outono, e me pergunto em silêncio "até quando?". Sem resposta, sem melhora, sem sossego, sem perspectivas, não vejo mais sentido em trabalhar, em seguir horários, em me informar, as vezes até em conversar com as pessoas, e, em meio a tudo isso, o maior medo que tenho é de esquecer como é ser feliz...