quarta-feira, 30 de junho de 2021

De pouca fé?

A pandemia trouxe a tona a noção definitiva da finitude pro dia a dia.

Nunca tinha pensado tanto sobre a morte quanto agora, nem de como muitas vezes é importante se apegar ao sagrado pra ativar as esperanças.

Sempre me achei uma pessoa de pouca fé, talvez pelo fato de sempre ter uma vida muito fácil e nunca precisar ter deus como ajudante pras situações, talvez por ver a fé sob ângulos perversos de religiões manipuladoras, desleais, e igrejas aproveitadoras das misérias dos seus fiéis. Mas, no último um ano e meio, rezo todas as noites, pra deus, guias, santos, anjos e pra minha Avó - que morreu há poucos meses e ainda não consigo escrever nada sobre.

Rezo por desespero, por não ter mais nada pra fazer pra ajudar, nem no mundo concreto, nem no das ideias. Me sinto melhor depois, sinto que faço parte de algo maior quando peço forças e olhares carinhosos pra quem eu conheço e está precisando.

Eu gosto da noção de existência de um deus, sempre respondo um "vai com Deus" com um "com deus também". 

Tem sua importância ter algo maior pra se apegar, se sentir cuidado, ter uma muleta emocional poderosa, que tudo vê, escuta e faz. Que, de forma positiva ou aflitiva, faz as pessoas tentarem ser melhores, principalmente quando a morte espreita por todos os lados quem amamos, como agora. 

Antes de dormir eu rezo, e ao acordar, abro a janela e fico olhando pra fora, esperando passar alguém de máscara na rua, pra garantir que os últimos 18 meses não foram apenas um pesadelo horrível, mas logo eu recebo o choque da realidade de que não foi, e aí eu não rezo, só respiro fundo e sobrevivo mais um dia, todo dia, pq eu sei que no fim das contas a energia das palavras que eu emano até tem sua importância, mas as ações fazendo a minha parte pelo coletivo têm mais ainda...