sábado, 18 de abril de 2020

Quarentena

Hoje fazem 30 dias que eu estou em casa, que eu só vejo a cara da rua da área aberta do meu apartamento.
Reconheço, que privilégio ver o céu dia ou noite sem uma grade na frente, tomar sol ou chuva facilmente quando eu quiser, e assim me sentir minimamente viva no meio tanta pulsão de morte às voltas.

A vida anoiteceu, não existe rotina, não existem encontros, os planos do mundo foram todos pausados, no micro e no macro. O amanha é incerto, nebuloso e amedrontador.
Participar da historia do mundo tem sido ver horas de serie, dormir e acordar sem horários definidos, e morrer de saudades dos amigos, das festas, dos abraços.

Peço desculpas, esse não é um texto de realidade cruel, mesmo o assunto sendo uma pandemia, porque eu sou uma pessoa de vida facilitada pelo dinheiro, pelas mordomias que se pode comprar.
Eu sou o retrato da minoria, que só tem que se preocupar com a sua saúde e de quem ama, a maioria, além disso, tem que se preocupar com a sobrevivência esmagadora na selva capitalista completamente doente.
Ciente disso, esse texto não vai ter a menor romantização, dica de aproveitamento de tempo, receita de bolo ou de como a humanidade vai melhorar depois disso, não existe ver lados positivo em uma situação que leva tantas pessoas a morte.

Não esta tudo bem, não vai estar tudo bem por um bom tempo, mas vai passar, nós vamos ter coragem e lutar, desistir nunca foi pra nós.