quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Das situações incomuns em lugares triviais.

  Você é do tipo interessante para os olhos, quando te vi a primeira vez fiquei intrigada com seu jeito. Você tinha dreads,gostei; usava roupas estilosas,gostei; e, principalmente, gostei o modo como me olhou, como se visse através das minhas roupas e, não se iluda, não era meu coração que ele via, era minha pele, minha marquinha de biquíni, minhas sardas... Me senti pelada, ali, na frente de todo mundo, no meio do banco e não adiantava desviar o olhar, você ficou me encarando, me despindo.
  Você estava na fila ao lado e foi atendido primeiro. Ufa, que alivio, já estava ficando sem graça com aquele olhar filho da puta de safado. Não que eu não goste, não que não tenha me feito sentir mais mulher, mas ali não era lugar, não tinha abertura para dar continuidade ao olhar e só o olhar era pouco pra mim. Não me importava seu nome, apresentações eram desnecessárias, eu só queria ver aquele olhar de perto, brincando de "ligue os pontos" com as minhas pintas, ver meu olho verde pelo reflexo do seu castanho, suas tatuagens encostando nas minhas, suas roupas jogadas em cima do sofá misturadas ao meu vestido florido e sua respiração se confundindo com a minha. Era isso que eu queria.   
  Chamaram a minha senha e você continuava a ser atendido e continuava a me dar umas olhadas. Com sorte eu acabo primeiro e saio logo de perto desse olhar, eu pensei. Sorte, desde quando eu tenho sorte? Sei muito bem que não posso contar com ela. Acabou o seu atendimento e você foi embora, não olhei para atrás, não sei se você ficou esperando eu virar e dar um sorrisinho como quem diz "me espera la fora". Sai meio esbaforida, guardando meus documento e seu olhar na minha pasta de "inesquecíveis" e sem perceber trombei em você.
Parece coisa de filme hollywoodiano, e se fosse um filme a nossa historia de amor teria começado ali. Mas não é filme, é a minha vida, a mesma que por muitas vezes eu dei a alcunha de novela mexicana por ser uma bagunça e cheia de momentos sem nexo, como esse.
  Me desculpei, peguei minhas coisas que caíram e sai rápido sem olhar pra você, sei que era o dono do olhar pelos dreads e pela roupa, não me atrevi a te olhar nos olhos. Se eu olhasse o passo seguinte seria algo como "me tira daqui e me leva pra onde você quiser", escolhi não olhar e não sei se foi a escolha certa, só sei que ninguém nunca mais me olhou com um olhar tão bom de ser sentido.

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